Caso você não possa assistir ao vídeo acima, leia abaixo o que os especialistas Simone André, consultora e mentora de políticas educacionais, Ítalo Dutra, chefe de Educação do Unicef no Brasil, Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos pela Educação e Lúcia Dellagnelo, diretora-presidente do Centro de Inovação para a Educação Brasileira (Cieb) disseram:

 

Simone André, mentora e Consultora de Políticas Educacionais

As famílias são muito importantes para gerar aprendizagem. Já existem inúmeros estudos dizendo isso, a gente conhece isso muito bem. Tem algumas atitudes das famílias que importam muito para a aprendizagem dos filhos, dos estudantes. Hoje, nós temos um cenário no fechamento das escolas de que apenas 35% das famílias disseram, quando perguntadas em uma pesquisa do Datafolha, ter recebido orientações da escola.

 

Com a possibilidade de perder estudantes, não conseguir alcançar as famílias, isso gera desigualdade e isso é fruto da desigualdade, porque as famílias menos alcançadas são as que mais precisam e se afastaram da escola.

 

Ítalo Dutra, chefe de Educação do Unicef no Brasil

Agora, se preparar para quando a gente olhar para o retorno às aulas, a gente tem que ter um tópico específico sobre essas famílias em situação de vulnerabilidade. Seja porque já temos números do quão pesada é a pandemia exatamente para essas famílias e nesses locais, principalmente, de situação socioeconômica vulnerável, saneamento básico, onde temos desafios importantes a enfrentar sobre isso. 

 

Do ponto de vista da educação, é importante ir atrás desses meninos e meninas dessas famílias logo que isso voltar. Mas é preciso se preparar para isso desde já. Sabemos que as secretarias municipais e estaduais já estão assoberbadas com muitas atividades de preparação de material para atividade remota, muitas coisas acontecendo a partir daí. 

 

A gente precisa reconhecer que essas desigualdades estão aí e poderão ser ampliadas durante a pandemia do covid-19 e que, para se preparar para esse retorno, também precisamos combater essa sensação de ano perdido. A gente vai ter que se adaptar a esse contexto e entender que a gente sim, precisa olhar para esses meninos e meninas quando retornarem. Readaptar os ciclos, o que é importante e precisa ser levado em consideração; ter um olhar diagnóstico para essas diferenças, ver se foram ampliadas ou não e obviamente trabalhar para não deixar ninguém para trás.

 

Simone André, mentora e consultora de Políticas Educacionais

Eu queria dizer para vocês que tudo que vocês fazem, de alguma forma, pode chegar lá. E lá é onde? Na motivação do estudante. Na conexão dele com a escola. Na capacidade dele se sentir seguro, não só para ir para a escola, porque isso demanda mais, mas seguro de que ele pode aprender e de que vai ser escutado nas dificuldades que tem para aprender. Essas pequenas ações de atenção, escuta e conexão fazem muita diferença na vida dos estudantes. Não desistam disso.

 

Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos pela Educação

Essas crianças também vão chegar depois de muitos dias de suspensão de aulas presenciais. Então tem que dar um tempo, a escola tem que dar um tempo para essas crianças. Elas precisam voltar a se reconectar com a escola, com as suas professoras, ter que ter um tempo para todo mundo poder falar como foi esse período, ser acolhido. Esse é um ponto muito importante e acho que vai ser um erro se as redes começarem diretamente para o batidão das aulas, tem que ter aula… calma! Não é perda de tempo, é ganho de tempo. Se a gente não tiver um momento de absorção de tudo aquilo que aconteceu e ter a oportunidade de reconectar, religar e ter um grupo que tem confiança um no outro… você tem que construir uma comunidade de confiança nesse momento. Talvez seja o primeiro passo e o mais importante. É quase como uma premissa, se a gente não tem um nível de confiança nas escolas, acolhimento, de que eu me importo com o outro e com como o outro está se sentindo, como que o outro agora está vivendo, que tipo de situação ele está, muito dificilmente vamos ter uma educação de qualidade e aprendizagem. A educação começa com acolhimento e um ambiente, um clima de confiança.

Lúcia Dellagnelo, diretora presidente do Centro de Inovação para a Educação Brasileira (Cieb)

Essa reaproximação e esse senso de pertencimento a uma comunidade escolar sem dúvida é algo que a gente tem que manter! E anotem aí, para a gente não esquecer, de falar sobre isso. Falar sobre essa grande aprendizagem que a gente quer que fique quando voltar o novo normal.