Caso você não possa assistir ao vídeo acima, leia abaixo o que as especialistas Priscila Cruz, Presidente-Executiva do Todos Pela Educação, e Simone André, consultora para políticas educacionais, disseram:

 

Priscila Cruz, presidente-executiva Todos Pela Educação

 

O professor também está passando por um momento de gravíssima crise emocional. Também está perdendo pessoas queridas para a doença, ele também está com estresse tóxico… muitas professoras estão numa situação de violência doméstica. Então, a gente tem uma série de situações acontecendo nos lares brasileiros e que os professores são cidadãos e que também estão sofrendo com tudo isso. 

 

E esse sofrimento dos professores nesse momento faz com que eles estejam em condições menos favoráveis para também cuidar das crianças. E a palavra cuidar é a palavra mais importante nesse momento. Então, ele tem que cuidar dos professores para que eles consigam cuidar dos produtos dos seus alunos. Ninguém que está dilacerado consegue cuidar do outro, tá? 

 

Então, quando a gente pensar em formação de professores, tem uma etapa anterior, a de acolhimento desses professores, Os professores serem cuidados pela gestão pública. E aí começar a pensar, em um segundo momento, pensar na formação desses professores em relação aquilo que que precisa ser implementado e feito na escola e a gente começa a ter um trabalho mais voltado para a aprendizagem das crianças. 

 

Simone André, mentora e consultora para políticas educacionais

 

É preciso ouvir os professores, ouvir os estudantes, de maneira informal ou estruturada, por exemplo, com pesquisa de opinião. Agir com base no que está sendo pensado e sentido pelos professores. A conexão entre eles, o apoio entre eles, com eles, a colaboração com eles…. sempre que a gente se sente amparado, escutado, compreendido nas nossas dores, suportado para dar o próximo passo, tem uma parte das nossas angústias que se resolve. Tem uma parte das angústias, das crises de sofrimento emocional que a gente resolve o que é cotidianamente terapêutico na relação produtiva e numa relação saudável entre nós que trabalhamos com educação, é uma parte que se resolve aí. 

 

Tem uma outra parte que requer um atendimento psicológico ou psiquiátrico mais estruturado. Uma saúde mental, mais propriamente estruturada. Para isso, é muito importante que as ações de gestão, nesse momento, sejam intersetoriais. A educação tem que agir em conjunto com a saúde e com a assistência, pelo menos. esse trio tem que agir junto. Os canais de encaminhamento, de diálogo entre saúde mental e educação têm que estar muito ajeitados neste momento, por isso que a ação dos gestores é tão complexa, eles tem que pensar em todos esses fiozinhos articulados.

 

A preparação dos professores é estrutural, é importantíssima. Nós pensamos aqui um itinerário formativo para o professor, pensamos também que esse itinerário pode ser uma base forte para construir o desenvolvimento profissional docente 

 

Por quê e como? O primeiro motivo, todo mundo conhece: todas as evidências são claríssimas a esse respeito. Os professores são o fator intraescolar, que está no nosso controle, e que tem maior impacto na aprendizagem. Eles são decisivos para toda e qualquer forma de aprendizagem, seja ela presencial, seja ela remota. Isso já é um um grande consenso na literatura de evidências e também na experiência como educadores. 

 

Temos um outro motivo, também, para preparar bem os professores. A reabertura das escolas, tudo indica, não acontecerá de forma plena em 2020. Os estudantes vão voltar parcialmente, se voltarem,  e parte deles continuarão no ensino remoto. Então, o nível de complexidade de reabertura, se acontecer, será grande. Vamos ter que fazer a gestão de ensino remoto, ensino presencial e híbrido.