No meio da madrugada do dia 16 de maio de 2019, o celular do empresário Giovani Arcanjelo lotou de mensagens no WhatsApp. O nível do rio São Lourenço, em Miracatu, no interior de São Paulo, subiu e deixou famílias desabrigadas. Giovani tirou o barco da família da garagem e foi ajudar no resgate das famílias desalojadas em função das chuvas intensas.
O celular da educadora social Daiana Leite também tocou. Alertada pelo irmão, que é coordenador da Defesa Civil da cidade, começou a compartilhar fotos e vídeos das enchentes em diversos bairros de Miracatu. Na casa dela, o marido logo aprontou o trator para ajudar nos resgates de desabrigados. Daiana trabalhou na arrecadação de alimentos, materiais de limpeza e roupas.
O que une essas duas pessoas é o Parceria pela Valorização da Educação (PVE). Os dois ficaram sabendo do forte impacto das chuvas pelo grupo de mobilizadores. Junto com outros quinze integrantes do grupo de mobilização, arregaçaram as mangas e deram uma lição de solidariedade.
O meio ambiente é um assunto recorrente na cidade, independente da incidência de catástrofes naturais como essa. Tanto é que o causa de mobilização social definida pelo município de Miracatu para o PVE deste ano é o de promover a educação ambiental entre os habitantes, uma vez que cerca de 77% da área do município é composto pela Mata Atlântica. Dessa vez, o grupo do PVE tornou-se um espaço para compartilhar os pontos críticos que estavam sofrendo com a enchente e organizar o socorro à comunidade.
— Corremos para poder salvar as pessoas. O nosso grupo começou a questionar o que mais poderíamos fazer. Preservamos as vidas das pessoas, correto, e já tínhamos uma atividade planejada, nossa semana verde. Reformulamos a partir disso e agora estamos buscamos donativos para poder atender essas famílias [desabrigadas] — aponta a técnica de mobilização do município, Luiza Gonçalves.
— Comecei a participar do PVE nesse ano e esse grupo só fortaleceu as pessoas que já ajudavam na comunidade — lembra o empresário Giovani Arcanjelo.
— Infelizmente foi por um motivo muito triste, mas a nossa mobilização continua! Estamos arrecadando mantimentos, roupas… Agora pretendemos fazer uma campanha de arrecadação de brinquedos para a escola. Foi muito à flor da pele assim, ninguém pensou em nada. As mensagens foram chegando e nós nos comunicamos para poder ajudar o próximo — conta a educadora Daiana Leite.
Apesar de o PVE atuar buscando a qualificação de práticas de gestão educacional e escolar, a comunidade de Miracatu foi exemplo de sucesso em outra frente que o programa desenvolve: o engajamento na mobilização social.
Um dos pontos mais afetados da cidade foi a escola municipal Júlia Bottaro dos Santos, no bairro Pedro Barros. Os voluntários se reuniram para limpar a escola e arrecadar mantimentos, para que a instituição pudesse voltar a atender as crianças da comunidade.
— Sinto muita gratidão de poder ajudar o próximo, eu fico muito emotiva, eu vejo o sofrimento. Eu já passei por isso, a água chega e você não consegue salvar nada, você quer ajudar mais e não consegue. Pra mim, foi gratificante poder fazer parte, arrecadar doações e amenizar a dor de outras famílias — relembra Daiana.
A catástrofe natural acabou reforçando o compromisso da cidade com a temática ambiental proposta para este ano. Desde então, o grupo de mobilização social realizou uma Caminhada Verde, coletando lixo por áreas da Mata Atlântica, uma ação que organizou o plantio de árvores frutíferas, e uma palestra com a engenheira ambiental Fernanda Vieira, na Câmara Municipal, sobre o descarte de lixo nas rodovias. Todos os eventos promovidos são abertos à comunidade.
Entre as próximas ações, a cidade terá um Simpósio de Meio Ambiente, de 11 a 14 de junho, no Salão da Diretoria de Ensino de Miracatu. O ciclo de palestras abordará a fauna e a flora da cidade, além de ser palco da exposição “Floresta Viva”, do fotógrafo Luciano Candisani, que retrata as belezas da Mata Atlântica. No final de junho, o grupo de mobilização tem ações de conscientização sobre sustentabilidade e reciclagem previstas na cidade.
Como o PVE quer melhorar a educação
O PVE é um programa que promove ações e oportunidades formativas para o desenvolvimento de competências em gestão e mobilização social a fim de que os participantes possam contribuir para a melhoria da educação do município. Assim como Miracatu, o grupo da sua cidade também pode se organizar para fazer a diferença na comunidade. A mobilização e solidariedade demonstradas pelo grupo da cidade de Miracatu são exemplos das competências Estrutura de uma rede social pela educação e Vitalidade de uma rede social pela educação.
As práticas desenvolvidas, respectivamente, são:
– Integrar atores de diferentes setores da sociedade
– Contar com diversidade de escolas, classes sociais, faixas etárias e orientações políticas
– Estar aberto à adesão de novos integrantes; atuar de forma coletiva e unida
– Ser propositivo frente aos desafios da educação, projetando mudanças e comprometendo-se com atividades para sua efetivação;
– Trabalhar coletivamente para produzir resultados efetivos, consistentes e perenes em prol da qualidade da educação;
– Desenvolver estratégias para a continuidade da mobilização social em prol da educação
– Comunicar as ações e os resultados gerados pela rede.