Para trazer novas perspectivas sobre processos de planejamento colaborativo, realizamos esta entrevista com uma pessoa que é referência no campo. Tanya Stergiou, possui mais de 20 anos de experiência como consultora e facilitadora na área de Desenvolvimento Organizacional e Ambientes Colaborativos. Coordenou projetos nas áreas de desenvolvimento econômico, gênero, meio ambiente, cultura digital, direitos indígenas, alinhamento de valores e propósito, planejamento estratégico e governança dinâmica. Ao longo dos anos desenvolveu trabalhos em parceria com instituições do Governo, ONGs, e empresas privadas. Hoje é consultora da Sociocracia Brasil e do Bioinspiral e atua na área de autogestão e governança dinâmica.

 

O poder de sonharmos juntos
por Pedro Lunaris – Facilitador de Processos Colaborativos

 

Nossos sonhos tem muito poder. Eles tem a força de nos levar para a frente, de nos dizer as coisas pelas quais queremos lutar. E tem a qualidade de nos ajudar a perceber as ações que podemos fazer e que mais trarão um impacto positivo para a sociedade.

 

Isso porque nossos sonhos trazem uma convergência interessante. Quando sonhamos, pensamos e sentimos sobre os aspectos que mais nos motivam – aqueles que nos mobilizam internamente. Ao mesmo tempo, não sonhamos desligados do nosso contexto. Nossos sonhos tem a inspiração do que vivemos e são impulsionados pelas nossas percepções. Nos sentimos mexidos tanto pelas coisas bacanas quanto pelos problemas que encontramos. Esse entendimento pode ser resumido da seguinte forma:

Percebemos algo (bom ou ruim); Sentimos surgir uma motivação de fazermos algo a esse respeito?; Se sim, sonhamos com o que podemos fazer

 

Quando criamos um projeto colaborativo, nossos sonhos têm um poder extra: o de unir as pessoas envolvidas, formando um grupo. Por isso o Sonhar do projeto traz elementos que motivam cada um dos participantes. O convite é para que todo o grupo entenda os sonhos colocados pelas pessoas como parte do mesmo sonho coletivo. É possível que cada participante escolha com quais ações quer colaborar mais efetivamente, mas é importante que todos apoiem a busca pela realização do sonho como um todo.

 

Tudo isso passa pela capacidade de cada participante de sonhar. E essa capacidade pode estar limitada por diferentes fatores.

 

Pode ser que as pessoas não estejam acreditando no poder dos sonhos por estarem passando dificuldades em suas vidas. Por outro lado, pode ser que não acreditem na capacidade do grupo de se comprometer com todos os sonhos colocados – e, nesse caso, o que falta é a “liga” do grupo.

 

Pode ser, também, que as pessoas estejam desconectadas das necessidades de seu contexto. Isso pode acontecer por estarem muito habituadas a ele, a ponto de não enxergarem a importância ou o potencial de mudança. Nesse caso, elas ou não terão ideias e inspirações, ou suas contribuições estarão muito distantes da realidade local – o que pode gerar frustrações.

 

Por fim, pode ser que as pessoas estejam desconectadas de si mesmas – de suas inquietações e aspirações mais profundas. Isso pode ser o efeito de um cotidiano atribulado, quando o principal foco é “apagar incêndios” todos os dias. Também costuma ser o caso quando encontramos pessoas em situação de vulnerabilidade.

 

Todos esses aspectos podem estar presentes tanto em grupos de adultos quanto em grupos de jovens. Mas o jeito de conduzir cada um desses trabalhos terá suas diferenças.

 

No geral, quando encontramos dificuldades para sonhar, um bom caminho é buscarmos abrir espaço para o sonho através do reconhecimento. No Guia de Mobilização do PVE, as palavras-chave ligadas a Reconhecer são:

 

Respostas; Resultados; Celebrações; Aprendizagens; Reconexã; Satisfação

 

Quaisquer processos que busquem efetivar essas palavras ajudarão a abrir espaço para perceber o que está acontecendo – em cada pessoa do grupo, na comunidade local e no município. O caminho para potencializar o Sonho tem muito a ver com isso: procurar olhar para si e para o outro, reconhecer as dificuldades, dar nome às situações, e então celebrar todas as potências.

 

No caso dos jovens, toda condução que for mais lúdica tenderá a ter mais sucesso. Mas não é só com brincadeiras que podemos cativar. Muitos jovens apresentam uma grande disposição para criar e contribuir quando percebem que têm a oportunidade de fazer um projeto deles.

 

Já para outros jovens, essa ideia pode ser um pouco assustadora, ou pelo menos gerar paralisia. É aí que oferecer algumas dinâmicas – sejam brincadeiras, sejam conversas fomentadas por exemplos de outros grupos – pode ajudar muito. O que pode estar por trás da paralisia é a falta de oportunidade por enxergar que podemos fazer.

 

Em todos os casos, um bom sonho começa com a percepção. Notar o que o mundo precisa, como minha comunidade pode ser melhor. E, ao mesmo tempo, o que eu tenho vontade de fazer, e o que nós podemos fazer juntos. Processos de reconhecimento abrem espaço para que essa percepção aconteça. E um bom convite, como esse que o PVE trás, vai oferecer tanto o ponto de partida quanto a estrutura do caminho que cada grupo pode trilhar.

 

Vamos juntos?