“A violência contra as crianças e adolescentes acontece e se propaga com base no silêncio, e pode ocorrer no núcleo onde ela deveria se sentir mais protegida, a família”. Foi com esta advertência de Juliana Fonseca – doutora e mestre em Educação pela PUC-SP, assessora do Núcleo de Apoio e Acompanhamento para a Aprendizagem (Naap), da secretaria municipal de Educação de São Paulo e professora do curso da FMU e Unimes – que a Live promovida pelo PVE para as famílias se iniciou (confira aqui a íntegra).

 

A frase é forte, e o cenário é bastante preocupante. Segundo Juliana, o número de denúncias relacionadas a violência  contra crianças e adolescentes aumentou em 28% no país neste período de isolamento social por conta da pandemia do Covid-19, em relação ao mesmo período do ano passado. E salienta:

– Estes números são apenas a ponta do iceberg. O silêncio e a subnotificação escondem o verdadeiro panorama dessa situação.

 

É neste cenário que a escola deve assumir dois papéis importantes: reconhecer e prevenir.

 

Juliana explica que alguns sinais que os alunos dão podem dar indícios de que alguma coisa pode estar ocorrendo com ele. Um dos mais evidentes é quando há uma mudança repentina de comportamento, por exemplo umaluno tímido que passa a ter atitudes mais agressivas, ou um aluno mais comunicativo que de repente passa a ficar mais apático. O baixo rendimento de um estudante também pode indicar uma situação de violência, pois a cabeça do aluno “não tem sossego”, impactando na sua aprendizagem.

 

Outro papel fundamental que a escola deve desempenhar é o da prevenção, mas como? Aulas de educação sexual, por exemplo, podem dar subsídios e compreensão para que as crianças e jovens percebam que há algum tipo de comportamento inadequado no tratamento delas em casa, além de conseguirem nomear seus sentimentos e sensações. Mas para isso, ressalta Juliana, o professor precisa estar preparado para lidar com estas situações e munido de práticas e instrumentos adequados para cada faixa etária.

– A escola precisa se abrir para a realidade do educando – resume ela.

 

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Se algo neste sentido for percebido, é obrigação da escola encaminhar a denúncia aos órgãos competentes, como o Conselho Tutelar do município. O mesmo cabe a parentes, amigos, vizinhos e a sociedade em geral caso desconfie ou tenha presenciado alguma situação de violência. 

 

Os caminhos para denúncia, aponta Juliana, são o Disque 100, serviço nacional que fará um registro anônimo e acionará o Conselho Tutelar municipal, ou se a situação não pode esperar por esse trâmite todo, ligar diretamente para o Conselho Tutelar – que segue trabalhando, em regime de plantão, durante o período de pandemia. Nestes casos, Juliana explica que é importante pedir o número de registro da denúncia para fazer o acompanhamento do andamento do caso.

– O que não pode ser feito é se omitir. A violência não pode ser naturalizada – sentencia.

 

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Além dos casos de violências mais comuns, o período em que famílias estão em isolamento inspira uma série de atenções. Seja nos casos em que a vítima mora na mesma casa do agressor, e os casos são correntes, sejam em casos em que não havia situações de violência pregressa, mas que por motivos de destempero e outras causas relacionadas ao contexto em que estamos vivendo pode desencadear em algum tipo de agressão. A necessidade do isolamento social que a pandemia gerou também pode ser encarada como uma violência para as crianças, que não entendem completamente o motivo, e sofrem com isso, enfatiza ao comentar que esta é uma situação que as gerações anteriores não viveram.

 

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Nos casos mais severos, deve-se denunciar. Naquelas que aparentam ser mais brandos, relacionados a algum estremecimento nas relações dos moradores da residência, a primeira dica é: respire fundo. E para ajudar no bom convívio em casa, Juliana aponta técnicas de Comunicação Não-Violenta, que, a grosso modo poderíamos apresentar como uma de suas premissas a clássica frase “não faça com os outros aquilo que não gostaria que fizessem contigo”.

– No caso das crianças e adolescentes, a família tem que se colocar no lugar deles e pensar “eu trataria um adulto da mesma forma? Empregando força ou aspereza?” – sugere Juliana.

 

Como mensagem final e muito importante, ela enfatiza que a violência pode ter fim, se todos fizermos nossa parte.

– O ciclo (intergeracional ou não) se rompe quando quebramos o silêncio, e para isso é preciso informação.

 

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