Nos dias 16, 17 e 18 de novembro, o PVE deu início ao programa Conversas Inspiradoras, uma série de lives com o time PVE e convidades especiais para conversar sobre os principais temas relacionados à Educação. 
 
No dia 16, tivemos Leandro Prone, Analista de Projetos do Instituto Votorantim, que convidou Angela Biscouto para um bate papo sobre o retorno às aulas na rede de ensino pública e como escola, professores, gestores, alunos e famílias podem dialogar nesse momento. Angela é professora, graduada em Pedagogia e Fonoaudiologia e Especialista em Modalidades de Intervenção no Processo de Aprendizagem e Mestre em Distúrbios da Comunicação. Possui experiência na docência da Educação Básica e Superior. Atualmente é Coordenadora Pedagógica do Sistema de Ensino Aprende Brasil, do Grupo Positivo e discute Educação em mais de 200 municípios parceiros.
 
Na live, palavras como diálogo, escuta e abertura para mudanças foram recorrentes para falar do contexto atual. Sim, está sendo desafiador e o cenário, conforme disse Angela, por vezes é muito cruel. “Esse momento coloca uma lupa sobre todo o ambiente escolar. É um momento que potencializa o desafio de ensinar. Depois de ficar muito tempo afastado, mudar o contexto e integrar toda essa diversidade entre quatro paredes não é fácil. Precisamos poder trabalhar com tranquilidade, serenidade e também com muita seriedade diante dessa luta posta”, disse a professora.
 
Angela falou sobre a influência da presença física na escola, que exerce um papel importante na socialização e construção da autonomia do aluno. Entretanto, este retorno causa insegurança e medo, tanto nas crianças, como em suas famílias, nos professores e na comunidade escolar como um todo. A presença física dos alunos não é uma consequência automática do fim da pandemia, mas parte de um processo. Tudo acontecerá à medida que for se criando segurança e confiança no ambiente. Angela explica que insegurança e ansiedade são sentimentos recorrentes. “Faz parte desse momento. É uma mistura de sentimentos que para uns são capazes de mobilizar, enquanto outros paralisam. Isso cabe ao gestor orientar e auxiliar”, reforça.
 
O papel do professor nesse processo é visto com um olhar atento e sensível da professora Angela. Segundo ela, a pandemia mostrou que a escola não tem respostas para tudo. “Uma coisa que tem sido muito valiosa nesse período é que todos fomos postos em posição de desconhecer. A escola, que historicamente ocupa o espaço do aprendizado, do ensino, do saber, agora mostrou que não detém todas as soluções. Por isso, será preciso trazer o diálogo para conseguir acolher essa diversidade de sentimentos e desenvolver uma escuta sensível e ativa, a fim de buscar de modo coletivo as melhores saídas para cada situação”, disse. Nesse caso, a ideia é ir tentando, experimentando e conhecendo novas possibilidades.
 
A tecnologia também foi assunto na live. Para Angela, a mesma lupa que foi posta em cima do ensino durante a pandemia e que deflagrou muitas das mazelas vividas no ensino brasileiro, foi a mesma que ampliou muitos potenciais dentro da escola. Ela explica que talvez agora seja a hora de entender de novo como as tecnologias cabem no espaço da escola. É importante que se tenha muita clareza e sensibilidade para redimensionar tudo isso. O papo abordou, também, as formas como as famílias e a comunidade escolar podem contribuir e atuar na busca ativa daqueles que não voltaram para a escola. A ideia, nesse sentido, é desenvolver métodos que não sejam invasivos ou autoritários, mas que possam sensibilizar e motivar a volta desses alunos. 
 
Para 2022, o que mais se tem é expectativas. Angela encerrou a participação contando um pouco do que tem esperado para o próximo ano. Para ela, 2022 será um ano em que todos já terão muitos aprendizados e experiências devido ao período pandêmico e ao afastamento escolar. O presencial não será do mesmo jeito. “Vai ter tecnologia, vai ter afeto, vai ter resistência, trabalho e aprendizagem. Está difícil, temos este cenário posto e não podemos nos destruir nem acabarmos com isso. Vamos ter que seguir firme e forte”, encerrou.
 

 
 
Anna Bruschetta, Coordenadora de Programas Sociais Instituto Votorantim, convidou Audino Vilão para um bate papo sobre a importância de despertar o interesse e a paixão pelos estudos em crianças e adolescentes no dia 17. 
 
Audino é o vulgo de Marcelo Marques, estudante de história do interior de São Paulo que realiza um trabalho na internet em diversas redes sociais com o intuito de democratizar o ensino sobretudo das ciências humanas. Com mais de 130 mil inscritos no Youtube, aborda um conteúdo didático com gírias paulistas e cultura pop para explicar filosofia.
 
Durante a conversa, Audino contou para Anna quando se deu conta de que lecionar seria a sua profissão: “Sou apaixonado por história desde que eu era criança. Durante o Ensino Fundamental eu tive um professor de história e eu tenho muito orgulho de falar o nome dele, o professor Caco e ele tinha uma abordagem única”, e completa: “Durante esses anos eu comecei a me fazer uma pergunta: e se fosse eu no lugar dele? Daí começou a plantar a sementinha da pedagogia dentro de mim”, finaliza. 
 
Audino contou também sobre a sua didática que foi iniciada no mesmo período já que era o aluno escolhido para apresentar os trabalhos e também explicar o tema para seus colegas: “Quando eu ia explicar a matéria, eu usava gíria mesmo, de um jeito muito descontraído, assim os muleques entendiam o conteúdo e na hora de apresentar desenrolaram muito de boa, muito suave. E essa vivência de explicar e traduzir foi se aperfeiçoando e eu também pensava em situações do meu passado: Como eu vou explicar o empirismo de John Locke? Vou lá e recorro a um pote de feijão, que depois de aberto nunca mais é o mesmo, e aplico isso ao empirismo”. 
 
A conversa segue para como conectar os jovens e trazê-los para dentro da escola. Nesse contexto, Audino não desassocia a sua fala da desigualdade social: “Na pandemia, muita gente se viu obrigada a buscar renda extra. A pandemia quebrou o nosso país. Acho que muito disso está ligado a essa desigualdade social abismal, como que eu vou pra escola se eu não tenho o que comer?” e completa: “Fundamentalmente, a prioridade é acionar todas as esferas e resolver esse problema social” O papo segue de forma divertida sobre como Audino tornou-se um influencer e quais suas perspectivas para o futuro. Para conferir o conteúdo completo, basta clicar no vídeo abaixo!
 

 
O dia 18, foi reservado para discutir a evasão escolar, problema agravado pela pandemia e que trouxe – ainda mais – prejuízos que custaram caro para a educação pública brasileira. Nesta live, Margareth da Silva, Especialista em Responsabilidade Social da Citrosuco e Mobilizadora do PVE desde 2017, convidou Arthur Santos para um bate papo sobre os motivos e causas que podem levar um jovem ao abandono escolar, considerando o contexto e a realidade dos estudantes e buscando formas alternativas para combater essa preocupante situação. 
 
Jovem, negro, LGBT, morador e estudante da perferia a vida inteira, Arthur é graduado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Atualmente, é Analista de Inovação do Instituto Votorantim, à frente de projetos que conectam empresas investidoras com impacto social. Apaixonado pelo tema, tem atuado como pesquisador dessas temáticas e focado em questões de raça e gênero. 
 
Com a mediação de Margareth, mais conhecida como Margô, a live já iniciou apresentando dados cruéis sobre a evasão escolar no Brasil e o quanto 2020 e 2021 foram anos difíceis para fazer uma busca ativa dos jovens que se afastaram do ambiente escolar. Segundo dados da Unicef, Fundo das Nações Unidas para a Infância, a evasão escolar atinge 5 milhões de crianças e jovens por todo o país. O problema já é um velho conhecido, mas a pandemia acentuou e agravou o cenário consideravelmente.
 
Mais precisamente, a Unicef registrou aumento de 5% entre crianças do Ensino Fundamental I e II e 10% em jovens do Ensino Médio. Margô lembra que a evasão escolar no Brasil tem cor, raça, endereço e renda. Além disso, a principal razão de abandono escolar desses jovens é devido à necessidade de trabalhar para conseguir complementar a renda familiar. 
 
Arthur lembra momentos em sua trajetória pessoal que foram decisivos para não abandonar os estudos e, em todos eles, foi a rede de apoio formada pela sua comunidade escolar que impediu que isso acontecesse. Porém, reconhece que teve sorte, pois muitas escolas ainda não possuem preparo e nem sabem como auxiliar a preencher as lacunas para que o aluno não precise abdicar do seu aprendizado. “A escola tem um papel de manutenção e permanência desse aluno que está além da prática pedagógica, que estende a ajuda aos familiares e faz um serviço social muito importante, já que se apresentam como porto seguro para eles”, disse Arthur. São realidades muitas vezes vulneráveis e que precisam ser olhadas com carinho e empatia para que se consiga mobilizar a partir das demandas de cada estudante. 
 
São vínculos criados que proporcionam um acolhimento importante nesse momento. Aqui, Arthur ressalta o papel do gestor escolar, que precisa de sensibilidade e escuta ativa, dando suporte ao estudante e sua família. Ele relembra figuras de gestão escolar que se tornaram um divisor de águas para que ele não desistisse, permitindo que continuasse engajado nas atividades pedagógicas.
 
Ao se encaminhar para o encerramento da live, Arthur ainda traz inspiração para atuar nessa luta e sugere maior representatividade para incentivar a permanência no âmbito escolar. “Acredito muito no trabalho em rede, e quando eu olho para minha trajetória educacional, vejo como é importante ter referências. Quando se trabalha a evasão, é muito importante saber que existem pessoas que, assim como eu, avançaram e terminaram seus estudos apesar das adversidades e dificuldades do cotidiano”, finaliza.