Interesse pela escola não é tarefa só dos alunos. Pais e familiares podem e devem acompanhar a aprendizagem das crianças e dos adolescentes. Mas, afinal, como ajudá-los a construir conhecimento? O conhecimento requer ações, físicas ou intelectuais, sobre os objetos, para que significados sejam produzidos. Ter a ajuda da família – que pode alimentar a curiosidade e atitudes de descoberta e investigação – faz uma grande diferença nesse processo. Veja algumas dicas para acompanhar a aprendizagem dos filhos.

 

Vá além do “Como foi a escola hoje?”

Entender como a criança se sente em relação à escola é importante, mas o apoio da família não se restringe a isso. Cuidar da aprendizagem também significa participar dela e entender como seu filho aprende, para que você possa ajudar da melhor forma possível, o que nos leva à segunda dica.

 

Entenda como seu filho aprende

Pais e familiares são os primeiros educadores com que as crianças têm contato e seguirão sendo referências em seu desenvolvimento, por isso a importância de buscar entender como a inteligência humana funciona e como o conhecimento é construído. De acordo com Piaget, um dos principais pesquisadores do mundo da Educação, para conhecer um objeto, é necessário agir sobre ele, modificá-lo, transformá-lo e compreender o processo dessa transformação. Podemos pensar em uma criança pequena, que aprende a mexer em um brinquedo ao apertar, ver, aproximar do corpo, ouvir, cheirar. Há intensa exploração, embora a reflexão seja ainda inicial. E existem as “perturbações”: tudo aquilo que “resiste” à nossa ação ao tentarmos compreender um objeto. No exemplo do brinquedo, pode ser uma simples peça que não se move conforme a criança espera. Para uma criança maior ou um adolescente, pode ser uma informação nova que contraria concepções anteriores. Construir conhecimento exige, portanto, agir intensamente e superar perturbações.

 

Saiba que decorar é diferente de aprender

Durante muito tempo, foi comum a prática de “tomar o conteúdo”: verificar se a criança reproduzia fielmente uma escrita ou um registro determinado. Historicamente, professores enfrentam dois desafios: preservar o conhecimento (histórico, científico) acumulado e abrir espaço para ações e construções dos alunos.

 

Esse dilema parece se estender às famílias, que muitas vezes valorizam mais a repetição de informações. Algumas perguntas podem nos fazer refletir: se seu filho decorou a “tabuada do nove”, significa que ele sabe calcular ou resolver um problema matemático concreto? Se ele repete que a evaporação “consiste na passagem de um estado líquido para um estado gasoso”, podemos afirmar que ele entende e identifica esse processo físico na natureza?

 

Você próprio possivelmente ainda se recorda da terceira lei de Newton, que diz que “a toda ação corresponde uma reação de mesmo valor, mesma direção e sentido contrário”, mas consegue relacioná-la com situações como o lançamento de foguetes ou o movimento dos nadadores? Incentivar que, em vez de repetir, a criança explique, com suas palavras, o que entendeu, é uma boa forma de contribuir com sua aprendizagem. E como fazer isso? Veja a seguir:

 

Mostre-se um bom investigador

Testar as hipóteses de uma criança requer entender como ela está pensando. Para entender como pensa, é necessário fazer boas perguntas. E é preciso ouvir, mas ouvir verdadeiramente. Questionar por que um determinado fenômeno acontece ou como ela sabe que o fenômeno acontece daquela maneira costuma ser eficaz. E, nesse cenário, as respostas não são, de antemão, certas ou erradas: são o primeiro passo para ajudá-la a refinar suas hipóteses e teorias. Como exemplo, se seu filho diz que “a fotossíntese é realizada pelas plantas para que produzam seu alimento”, você pode fazer desde perguntas básicas, como “as plantas se alimentam?”, “De quê?”, “De que jeito?”, até perguntas mais complexas, como “qual a relação da fotossíntese com a vida no planeta?”. Tudo depende de como a conversa se desenrola, do que a criança revela de sua compreensão. No entanto, como argumentar sobre o fato ou fenômeno estudado para que a aprendizagem avance se você próprio não o conhece?

 

 

Pesquise e aprenda junto

Pesquisar e aprender junto com a criança é um processo muito rico para fazer boas perguntas e ajudá-la. É claro que haverá assuntos sobre os quais nós mesmos, como adultos, teremos dúvidas. Portanto, buscar percorrer o caminho que a criança também percorrerá provavelmente dará pistas sobre quais dificuldades podem surgir e como enfrentá-las. Busque pesquisar sobre os assuntos que estão sendo vistos na escola, sobre projetos de que seu filho está participando ou sobre os quais ele demonstra curiosidade. Sempre há coisas a aprender e aprendizagens que podem ser aprimoradas.

 

 

Encoraje seu filho a questionar

Incentive a dúvida! Isso não quer dizer desconfiar de tudo e todos, mas sim comparar e analisar ideias, contrapor fontes. É muito importante, desde os anos iniciais, encorajar a convivência, com um olhar crítico, com fontes de informação diversas. O acesso a diferentes abordagens sobre um fenômeno também amplia as possibilidades de compreendê-lo. Contribui, ainda, com o desenvolvimento da curiosidade e do questionamento como hábitos.

 

Proponha experimentos e desafios

Um dos papéis do educador é não inibir a curiosidade, mas, sim, promover a reflexão. Em casa, os pais e familiares assumem essa função, e uma das maneiras de despertar a curiosidade é propor a realização de experimentos. Ao realizar pequenos experimentos, a criança testa e coloca à prova suas ideias. É, assim, desafiada a superar as perturbações – de que falamos lá na dica dois – que as respostas inesperadas geram. E isso tem a ver com como enxergamos o erro.

 

 

Entenda o erro como parte do processo

Quando propomos experimentos com as crianças, temos a oportunidade de dar outro significado ao erro. Um protótipo habitualmente parte de uma situação de não funcionamento para, então, chegar a funcionar da maneira desejada. Cientistas também vivem esse processo: ter as próprias certezas desequilibradas é fundamental para avançar em qualquer teoria. Aprender a lidar com o erro é, assim, essencial. Em vez de punir o erro, devemos valorizar o seu papel, ajudando a criança a entendê-lo como parte da construção do conhecimento.

 

Estabeleça acordos

Essa não é uma dica voltada apenas ao cuidado com a aprendizagem. Trata-se do cuidado com a educação do ponto de vista integral, porque se relaciona com a construção de princípios. Negociar horários para estudar e para brincar, por exemplo, envolve a criança e mostra atenção com suas propostas e seus argumentos, passo básico para a observação dos pactos estabelecidos. Isso ajuda a criança a interiorizar o sentimento de obrigatoriedade na observação das regras: ela se sente autora e, assim, corresponsável.

 

Entenda que uma lista de dicas não esgota o papel dos pais no cuidado com a aprendizagem

Acreditamos que as dicas reunidas aqui são realmente promissoras no apoio que pais e familiares podem dar às crianças e à sua aprendizagem. Mas sempre haverá novidades, desafios e dúvidas. E as dúvidas não serão solucionadas só com essa lista aqui. A recomendação que podemos fortalecer é: cultive a empatia. Procure se colocar no lugar do seu filho e entender como ele se sente. Isso vale, aliás, para todos os nossos círculos. Colocar-se no lugar do outro é provavelmente uma das maiores e mais difíceis aprendizagens, tanto intelectual como emocionalmente. Aposte nela. E ajude seu filho a construí-la também.

 

 

Colaboração:
Patrícia Behling Schäfer
Doutora em Informática na Educação (Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS)