O primeiro dia de formação educacional na Finlândia foi repleto de conhecimento e encanto. Logo cedo, as participantes de Aracruz e Ibiraçu foram até a Universidade de Helsinki, a primeira e maior instituição de ensino superior da Finlândia. Ela foi fundada em 1640 em Turku pela rainha Cristina da Suécia e hoje possui cerca de 38 mil estudantes, incluindo outros 5.500 em pós-graduação.

 

O curso de Gestão Escolar oferecido pela instituição tinha como objetivo apresentar o sistema educacional com diferentes palestrantes de distintas áreas.

 

 

Primeiro, houve uma introdução ao trabalho da universidade, que, além dos cursos oferecidos aos finlandeses, também recebe estrangeiros interessados em conhecer seu sistema educacional para implantar algo similar em seus países. No momento, a universidade está realizando a reforma educacional da Ucrânia. O governo de Hong Kong e cientistas da Coréia do Sul também passaram recentemente por aqui.

 

A apresentação seguinte foi uma contextualização sobre o sistema educacional finlandês, onde não é possível pagar por educação. Ele é totalmente gratuito. O plano educacional é elaborado nacionalmente, mas os municípios têm a liberdade de adaptar o conteúdo de acordo com as suas especificidades. São diretrizes que servem para os professores trabalharem seguindo as normas, sem perder características locais. Os professores são livres para escolher as matérias que vão ministrar.

 

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Um dos pilares da educação finlandesa é a sua cultura, que é muito forte. Exigem um senso enorme de responsabilidade individual, pois não há nenhum tipo de inspeção, nem exames nacionais. “Há baixa hierarquia e os professores têm muita liberdade”, disse a Heidi Krzywacki, doutora da Faculdade de Ciências Educacionais, ressaltando que existem sim testes nacionais somente para avaliação do Ministério da Educação, mas que não são publicados. Os professores têm um sindicato forte e, independentemente de onde ele trabalhe, o educador precisa receber exatamente o mesmo salário.

 

Outra curiosidade: as mães na Finlândia só colocam os seus filhos na creche a partir dos 3 anos, pois a licença maternidade vai até este período, estimulada pelo governo.

 

Formação de professores
A formação de professores é integral e gratuita e dura 5 anos. E ainda durante 50 meses, o governo dá uma ajuda de custo de 500 euros por mês, com direito a um empréstimo de 20 mil euros a juros reduzidos para que o estudante se mantenha neste período.

 

Para trabalhar como professor, a grande maioria precisa ter mestrado. “Porque quanto mais educado é um professor, mais preparado para manter a igualdade e a perceber o aluno de forma individual ele está”, afirma Heidi. Só os professores de creche e pré-primário não tem esta exigência.
Existe um departamento dentro da universidade próprio para a formação, com aulas teóricas, além de centros de treinamento, as chamadas ‘escolas de campo’, onde os estudantes devem estagiar em três momentos diferentes do curso: no início, no meio e no fim.

 

 

Inovação na escola? O papel do diretor
O terceiro momento do dia reuniu algumas inovações pedagógicas, pesquisas, achados e exemplos práticos das escolas finlandesas. As perguntas que surgem hoje são: que tipo de competências queremos para o futuro? Como melhorar a inovação?

 

Segundo Jari Lavonen, da Faculdade de Ciências Educacionais, os trabalhos estão mudando e temos que saber como as escolas vão preparar os alunos para este momento. “A dificuldade é saber que tipos de profissões serão criadas nos próximos 20 anos”, disse.
Após este momento, foi a vez da diretora de uma das principais escolas de Hensinki, Marja Martikainen, falar sobre boas práticas em governança escolar, administração e liderança.

 

Houve uma mudança significativa do papel do diretor nas escolas finlandesas ao longo dos anos. Na década de 70, o diretor era um chefe que precisava se certificar de que o trabalho estava sendo feito. Aos poucos, quando a administração foi dada aos municípios, eles só usavam seu tempo para gerenciar a escola. Nos anos 90, o poder da direção passou dos municípios para as escolas. E em 2000, ele passou a ter mais poder e hoje pode recrutar pessoas e decidir seu próprio orçamento.

 

É interessante dizer que pouquíssimos professores desejam ser diretores. O salário não é muito distante do valor pago ao professor e a responsabilidade é enorme. Além do mais, os professores acreditam que devem se preocupar somente com o aluno. Afinal de contas, foi para isso que ele escolheu a profissão.

 

Como fazer o professor se interessar também pela instituição? Foi com base nesta pergunta que foi criada uma comissão dentro de cada escola, com representantes da liderança, composta pelo diretor e outros 5 ou 6 professores principais. O grupo pensa em conjunto a estratégia da instituição e ajuda o diretor a organizar o planejamento anual, métodos de trabalho, temas de formação continuada, entre outros. “É importante que toda a escola esteja engajada para trabalharmos juntos em uma estratégia. Precisamos saber quem somos e para onde queremos ir. O mais importante é não perder a direção pedagógica, porque o foco é sempre o ensino e o aprendizado”, disse Marja.

 

No último momento do curso, os educadores brasileiros puderam se dividir em grupos para discutir algumas questões e tirar dúvidas. Certificado na mão, agora as ganhadoras do Prêmio PVE vão rumo às escolas finlandesas para ver de perto tudo que foi aprendido na Universidade.

 

E amanhã tem mais!

 

Por Carolina Nunes, gestora de programas sociais do Instituto Votorantim

 

Ibiraçu e Aracruz foram premiados na categoria Destaque Nacional do Prêmio PVE, nas classificações até 20 mil habitantes e com mais de 20 mil habitantes respectivamente. A premiação ocorreu no início do ano, e se refere a ações realizadas nos municípios referentes a 2018.