Há 56 anos, decretou-se a lei que nomeia o 15 de outubro o Dia do Professor. Desde então, é feriado escolar no Brasil. Apesar de a educação brasileira já ter evoluído muito desde a década de 60, alunos e professores ainda têm um longo caminho pela frente para uma educação pública de qualidade.

 

— Eu vejo que ainda não temos, tão bem organizado, um desenvolvimento da carreira do professor durante a vida profissional. Muitos iniciam a docência e abandonam para serem diretores, técnicos da Secretaria Municipal de Educação (SME), porque teriam alguma chance de melhor salário, aporte de recurso… Ao permanecerem na docência, não conseguem isso — lamenta Maria Amabile Mansutti, coordenadora técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).

 

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Maria Amabile iniciou a carreira na década de 60, como professora em sala de aula. Desde então, passou pelos campos da gestão educacional e escolar e hoje está à frente da Diretoria de Tecnologias Educacionais do Cenpec.

 

— É uma profissão que, para mim, foi uma escolha. Eu sou de uma geração que tinha um projeto de vida, comecei a trabalhar em plena ditadura, lecionava em escola pública. Tinha toda uma ideia de contribuir para melhorar o país, pela via da educação, formando as pessoas. Esse foi o propósito que me levou a ser professora e ainda hoje orienta a minha vida profissional — relembra.

 

A professora Roberta Panico, diretora de desenvolvimento educacional da Comunidade Educativa CEDAC, enfatiza a questão do apoio aos professores dentro das escolas.

 

— O trabalho da gestão é muito em apoio ao trabalho dos professores. Para que todos os profissionais tenham como foco a aprendizagem no dia a dia, eles precisam ser cuidados para poder cuidar dos alunos. Os diretores e coordenadores pedagógicos cuidam e apoiam os professores, para que esses consigam cuidar dos meninos e meninas em sala — aponta a professora.

 

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Roberta levanta outros desafios vistos pelos docentes na sala de aula como o avanço da tecnologia digital e o uso do celular pelos alunos.

 

— Isso não era uma questão colocada para mim. Eu tenho 30 anos de carreira. Nos últimos 15 anos, os estudantes mudaram muito, exigem do professor uma atualização muito mais rápida, uma busca de conhecimentos e práticas que ele não conhece. Às vezes, ele sabe muito menos de tecnologia que um aluno de nove anos e acho que isso coloca um pouco esse desafio de se atualizar muito mais rápido, de repensar práticas, modos de comunicação, porque ele não é o detentor da informação e do conhecimento. Se o aluno quiser saber sobre como é a vida em algum lugar, ele vai no celular, não precisa do professor para dar a informação — reflete Panico.

 

Ainda assim, professores continuam se formando todos os anos no Brasil, apostando na educação como base para o desenvolvimento do país. São recém graduados nos mais de 1.300 cursos superiores em pedagogia país afora, sem falar em graduados de áreas específicas que se formam em licenciaturas. Para os que começam a jornada por agora, as professoras Maria Amabile e Roberta julgam que algumas melhorias podem ser feitas:

 

— Eu acho que uma coisa a melhorar é a compreensão sobre os alunos. Muitas vezes, nós professores temos uma representação de um aluno idealizado que não é real, não é de carne e osso, que cabe na sala de aula com suas condições de ordem social, cultural, geopotencial, cognitiva… Precisamos conhecer, estudar, compreender melhor o aluno que hoje está na escola pública, saber quais são suas potencialidades. Também precisa, da nossa parte como professor, entender melhor as famílias. Muitas vezes a gente atribui as dificuldades da sala de aula às famílias, mas penso que ainda não conhecemos bem os esforços que uma família de classe popular faz para ter seus filhos na escola — avalia Maria Amabile.

 

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— Eu acho que o melhor conselho seria esses professores e a equipe gestora da escola se aliarem para um trabalho colaborativo em prol da aprendizagem de todos os alunos e do desenvolvimento profissional da equipe. Muitas vezes a relação e as condições de trabalho na escola estão muito desgastadas. O grupo de professores nem se conhece. Podem de fato contribuir um com a formação do outro na troca entre pares, isso seria muito bacana. As escolas com os melhores resultados são escolas em que as equipes mais se articulam, mais são colaborativas, seria o melhor, não se fechar, se abrir como uma equipe de trabalho, se espelhar em professores mais experientes, buscar ajuda, não somos melhores sozinhos, precisamos ter humildade profissional — aconselha Roberta.