No mês em que lembramos da luta contra o trabalho infantil, a Live da Mobilização Social convidou o psicólogo e educador social Djair Silva, da Fundação Abrinq, para falar sobre os mitos e verdades do trabalho infantil. O encontro foi mediado por Domênica Falcão, do Instituto Votorantim. A primeira concepção a ser desmistificada é a seguinte: tem diferença entre ajudar nas tarefas domésticas.

 

— Toda criança de 0 até 12 anos que estiver trabalhando é considerado trabalho infantil. E trabalhar, nesse sentido, é ter uma jornada extensa que impeça a criança a ter tempo livre para suas atividades do dia a dia, como tempo de lazer, estudar, brincar — explica o profissional.

 

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Também é considerado trabalho infantil toda e qualquer forma de trabalho que não está prevista em lei. Pela legislação, é permitido que adolescentes entre 14 e 16 anos trabalhem na condição de aprendizes, em uma jornada que não pode exceder seis horas e seja factível de conciliar com os estudos. O especialista lembra que para os adultos que se apoiam no discurso a favor do trabalho infantil, há uma série de estudos acadêmicos que comprovam as consequências negativas em curto e longo prazo dessas atitudes. Afinal de contas, preocupar-se com a renda familiar é uma preocupação dos adultos, não das crianças.

 

— Costumamos ter uma perspectiva de que esse trabalho que acontece desde à infância até a adolescência, acaba levando a criança para a continuidade desse processo de exclusão social, e também é uma forma de permanência do ciclo de pobreza — relembra.

 

Outro argumento comum é “o trabalho enobrece a pessoa, cria caráter”. Muitos dos que repetem essa ideia são hoje adultos que passaram pela situação de trabalho infantil e avaliam não ter danos em função disso. Djair lembra que a cultura do trabalho está na história moderna do Brasil. De acordo com o especialista, é comum encontrar pais e avós vivos hoje que relatam terem trabalhado na infância sem consequências. Para esses, Djair lembra:

 

— Quantas vezes essas pessoas, hoje, tem problemas físicos que são recorrentes do acúmulo, da carga de peso? Do trabalho em um momento que o corpo não estava pronto para isso — conta.

 

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E para quem ainda fala da formação pessoal, há outro argumento a ser falado: o trabalho não é o único ambiente onde as pessoas podem evoluir. 

 

— A gente sabe que se a criança tem oportunidade de praticar esportes, condições de desenvolver ética, cooperação, disciplina, dentro do ambiente familiar com as atividades básicas, não é o trabalho que vai ensinar caráter para uma criança ou adolescente. Não é o ambiente laboral, mas sim a convivência com pessoas que estão ali para ajudá-las — afirma.

 

O que fazer caso você encontre uma situação de trabalho infantil

  • Denuncie no telefone Disque 100. Esse número recebe denúncias em caso de violações dos direitos humanos em todo o país;

 

Assista à conversa, na íntegra: