– A maturidade dá trabalho. O jovem vive tudo pela primeira vez.

 

É com essa afirmação que o psiquiatra Amilton dos Santos Júnior – especialista em infância e adolescência, e docente da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – aponta para uma das possíveis causas de doenças como a depressão em jovens. O médico relaciona o desenvolvimento da depressão e outras questões de saúde mental à falta de referência nesta etapa da vida:

– Em especial na adolescência, quando ele descobre que a vida é difícil e ele não tem repertório de como lidar com as coisas, por isso tudo é mais intenso. É uma fase de luto pelas mudanças, o que torna o adolescente mais vulnerável – explica Dr. Amilton.

 

O assunto está tão presente no dia a dia que muitos grupos de jovens do PVE elegeram o tema para a mobilização social deste ano (confira ao final do texto). Dr. Amilton ressalta a importância de jogar luz sobre este tema para além do Setembro Amarelo.

– Movimentos como este [dos grupos de jovens do PVE] são importantes porque ajudam a tirar o tabu sobre o tema [da depressão e do suicídio]. Se não se falar sobre isso, vira um segredo, e o indivíduo não se sente à vontade para conversar.

 

Apesar de o tema ter ganho espaço, Dr. Amilton alerta que nem tudo se resume a depressão. O psiquiatra assinala que é necessário atenção aos “D’s”: depressão, dor e doença, desesperança, desamparo e drogas. Todos esses fatores têm potencial de desenvolver um quadro que pode afetar a saúde mental dos indivíduos.

 

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Com isso em mente, o psiquiatra aponta a escuta qualificada como um instrumento possível. Entre as sugestões estão os grupos de apoio: sejam pessoais – com familiares e professores –, sejam virtuais – mas neste caso é importante prestar atenção se há uma moderação responsável, isto é, quando as interações estão focadas em auxiliar na superação da doença de maneira saudável.

 

No caso de ações e grupos de apoio em escolas, o professor Paulo Brasil, da residência em psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), recomenda que as orientações dadas por profissionais da educação sejam focadas na promoção de hábitos saudáveis, fatores que podem coibir o desenvolvimento de uma doença mental.

 

— O profissional da educação pode transmitir informações com relação a hábitos saudáveis de vida, relacionados a sono, alimentação, prática de atividade física, pode eventualmente fazer roda de conversa com adolescentes para que eles expressem suas questões, campanhas relacionadas a prevenção de uso de substâncias psicoativas, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) — aconselha Paulo.

 

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E se alguém precisar de ajuda médica?

 

Dr. Paulo ressalta que é importante saber que cada caso é um caso e nenhuma solução serve igualmente a todas as pessoas. Por isso, o ideal é encaminhar a pessoa para um serviço de saúde.

 

— As ações do Setembro Amarelo não têm por objetivo capacitar as pessoas para que façam intervenções com o que escutaram. O objetivo é que alguém seja acionado e, a partir disso, alguma instituição de saúde possa ser mobilizada por aquela pessoa que estiver precisando de avaliação — reforça.

 

Dr. Amilton faz coro ao colega e salienta que mesmo em cidades de pequeno porte vale a tentativa de envolver o poder público na busca de ajuda ou encaminhamento de um profissional capacitado.

– É importante fazer o contato com as secretarias, tanto a de Saúde quanto a de Educação. Envolver e cobrar do poder público é um exercício de cidadania.

 

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No mundo ideal, toda e qualquer atividade relacionada ao Setembro Amarelo seria conduzida por pessoas especializadas na área da infância e adolescência. Mas, na realidade, o acesso ao atendimento profissional de saúde para essa faixa etária nem sempre está disponível, em outros lugares também, às vezes não se tem esse tipo de recurso. Na prática, muitas vezes é feito por um assistente social, por um profissional da educação; você terá uma intervenção um pouco menos qualificada do ponto de vista clínico, mas você vai ter uma intervenção que dialoga com a educação, com as especificidades locais das comunidades — aponta o Dr. Paulo Brasil.

 

Para quem vive em cidades mais remotas ou com dificuldade de acesso a serviços de saúde, Dr. Paulo lembra que o direito à saúde é constitucional e deve ser garantido pelo Estado: é direito de todos.

 

— Se na sua comunidade não tem [um serviço especializado de saúde mental], você vai bater na porta do posto de saúde. Às vezes, a gente fala de psicólogo, psiquiatra, mas as pessoas podem ir ao posto de saúde. O médico de saúde da família é um profissional que fez as disciplinas de psiquiatria do curso de Medicina e é qualificado para este atendimento ou até um encaminhamento a outro profissional.

 

Saúde mental entre os jovens do PVE

Os jovens de Barra Mansa, no Rio de Janeiro, tratam do assunto na mobilização pelo Instagram. A iniciativa Dialogalizando incentiva os jovens da cidade a se expressarem em locais seguros e atua na promoção da empatia.

 

 

 
 
 
 
 
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Hoje tivemos uma manhã muito gostosa e dinâmica!

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Em Nova Viçosa, na Bahia, os jovens estão promovendo palestras com os temas feminismo, depressão e homossexualidade, abrindo espaço para que essas causas sejam discutidas em ambientes escolares.

Jovens em Nova Viçosa/BA

 

 Palestras sobre a saúde mental do jovem também ocorreram em Buri (SP) no mês de setembro:

A imagem pode conter: área interna

Palestra em Buri (SP), no interior de São Paulo

 

Em Curral Novo do Piauí (PI), o grupo de mobilização promoveu em julho uma palestra sobre o tema, assim como Maragojipe (BA), que optou por combater as violências que os jovens enfrentam no ambiente escolar e as dificuldades nas relações interpessoais, como questões de saúde mental. A iniciativa reuniu um grupo teatral, que encenou histórias sobre depressão e ansiedade.

 

Fique atento para estes sinais

— Mudança geral de comportamento
— Mudança de atitude repentina
— Mudança brusca na forma de se relacionar com os outros
— Relatos de sintomas de tristeza, desânimo, apatia, choro frequente
— Em casos mais extremos, externar pensamentos de morte ou suicidas
– Adolescente gosta de grupo: se não tem interesse em integrar algum grupo de amizades, merece atenção
– Queda no rendimento escolar

 

Dicas para quem quer ajudar

– Não faça julgamento
– Tente entender o contexto do indivíduo
– Não precisa ter resposta certa, a escuta é mais importante
– Conscientizar que a vida não para, é importante tentar seguir em frente/ superar os obstáculos
– Estimular a pessoa a ter expectativas realistas: isso alivia a carga de sofrimento
– Incentivar a valorizar todas as conquistas

 

Busque ajuda por meio do Centro de Valorização da Vida, em ligação gratuita ao número 188, 24 horas por dia

 

Fontes:
– Dr. Paulo Brasil
Professor da faculdade de Medicina da UFMG, especializado em psiquiatria de adultos e infância e adolescência

– Dr. Amilton dos Santos Júnior
Professor da faculdade de Medicina da Unicamp, especialista em infância e adolescência