Já vimos aqui algumas dicas para que familiares acompanhem a vida escolar dos estudantes, que vão de alimentar a curiosidade até pesquisar e aprender junto. A criação de um ambiente de incentivo seguramente facilita a aprendizagem.

 

Em entrevista concedida ao portal Educação&Participação, Susan Sheridan, diretora do centro de pesquisa em criança, juventude, família e escola da Universidade de Nebraska-Lincoln, nos Estados Unidos, e especialista em Psicologia Educacional pela Universidade de Wisconsin-Madison, ao falar da necessidade de parceria entre família e escola, se refere ao “currículo de casa”. Ela usa a expressão para nomear as ações das famílias que podem ajudar na aprendizagem dos filhos. A pesquisadora afirma que o currículo de casa envolve atividades estruturadas, como providenciar um espaço para estudos e incluir atividades de leitura ou de resolução de desafios matemáticos no cotidiano. Mas vai além.

 

Susan sustenta que o currículo de casa implica tornar a educação um valor, um assunto de alta prioridade para a família, o que passa por constituir exemplos: de organização pessoal, de relações com os outros, de respeito e de solidariedade. Supõe, sobretudo, oferecer estruturas de apoio para a criança, para que saiba que é valorizada, que é importante, que poderá errar e, ainda assim, terá sempre com quem contar.

 

Entre as ações práticas que podem melhorar a aprendizagem, está, portanto, a existência de um “cantinho” na casa dedicado aos estudos. Para além da tranquilidade e do conforto físico, ficará para a criança a ideia de que o estudo tem valor, merece organização e precisa de ambientação.

 

Outra atitude simples, embora nada trivial, é reservar momentos de escuta da criança – escuta sem cobrança. Estamos muito acostumados a interpelar a criança cobrando desempenho, mas não é este o foco. Escutá-la tem a intenção de buscar saber como está se sentindo na escola, o que a motiva, sobre o que se interessa. Este pode ser um momento breve do dia, em que por 10 ou 15 minutos se estabeleça um diálogo com a criança, validando seus sentimentos e fortalecendo os vínculos afetivos.

 

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Silvia Kist, pedagoga, mestre e doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ressalta a importância do encorajamento, por parte dos responsáveis, para que a criança tenha necessidade e vontade de aprender.

– A família pode instigar a curiosidade e a necessidade de conhecimento. Ver os membros do grupo familiar utilizando a escrita nas suas atividades cotidianas pode contribuir para gerar esse interesse na criança – exemplifica Silvia.

 

Um ambiente familiar propício à aprendizagem é uma situação ideal, mas que, infelizmente, não é a realidade geral. Em inúmeros casos, os pais não sabem como ajudar na aprendizagem dos filhos por terem recebido uma educação formal deficiente.

 

Maribel Selli, pedagoga graduada pela Universidade Federal de Santa Maria (RS), especialista em Educação Infantil, mestre em Educação e doutora em Informática na Educação (UFRGS), tem larga experiência em escolas rurais e aponta maneiras como a família, independente do grau de instrução, pode fazer a diferença na educação dos filhos. Atualmente, é coordenadora pedagógica da Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristo Rei, na zona rural de Candelária, na região central do Rio Grande do Sul.

 

O primeiro passo, defende ela, é chamar a família para a escola. É ali que educadores e responsáveis precisam firmar um acordo de cooperação pela aprendizagem do aluno. E a principal mensagem a ser propagada entre ambos, direcionada para a criança, é a de que ela pode aprender.

– O que eu entendo é que a gente precisa trabalhar a autoestima deles e a condição de aprender. Com a família também a gente poderia trabalhar nesse sentido, de fazer com que a criança a acreditar que pode aprender.